Aprendeu a andar tarde, mas sabia que a sua maior defesa era suas pernas para fugir. Aprendeu a falar tarde, sabia que permanecer calado era mais seguro, principalmente para ele. Tudo que ele queria era não ser visto, não ser notado.
A primeira amizade de verdade foi tardia. O garoto brincalhão do parquinho da escola o chamou para empurrá-lo no balanço. Teve que dizer adeus a sua amizade de cinco anos: " Tchau Dudú, você sempre foi e sempre será meu primeiro e único amigo invisível".
Seu primeiro beijo foi tardio e constrangedor: uma fila de quatro pessoas esperando para beijar a prima bêbada de um deles. Ele era o último do "trenzinho". O beijo foi ruim, e a jovem bêbada fez questão de apontá-lo. Tudo que ele queria era não ser visto, não ser notado.
Sua primeira vez foi tarde; seu abençoado e envergonhado pai cansou de vê-lo trancado no quarto fazendo sabe lá o quê. Arrastou-lhe a uma casa de namoro pago. Ele se sentiu o sexo frágil naquele momento. Sua "namorada" gemia e falava que ele era grande. Ele sabia que não era. E sabia que o sexo não é o que diziam ser. Tudo que ele queria era não ser visto, não ser notado.
Nunca teve animo para os estudos, por isso teve sorte no seu primeiro emprego. Primeiro e último, diga-se de passagem. Tudo que ele queria era não ser visto, não ser notado.
Não constituiu uma família. Não tinha bens. Não tinha saúde. Não tinha sequer um nome. Tudo que ele queria era não ser visto, não ser notado.
Teve um enfarto tarde e estava sozinho. Sabia que ia morrer.
Seu coração apertava no peito. Analisou rapidamente toda sua vida e concluiu: "Eu sou o Dudú". Arqueou um leve sorriso no rosto enquanto fechava os olhos - o único objetivo que tinha na vida foi alcançado.
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